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sexta-feira, 28 de dezembro de 2012

TRIBUTO A MONTEIRO LOBATO



Houve uma jovem cigarra que tinha o costume de chiar ao pé dum formigueiro. Só parava quando cansadinha; e seu divertimento então era observar as formigas na eterna faina de abastecer as tulhas.
Mas o bom tempo afinal passou e vieram as chuvas. Os animais todos arrepiados, passavam o dia cochilando nas tocas. A pobre cigarra, sem abrigo em seu galhinho seco e metida em grandes apuros, deliberou socorrer-se de alguém.
Manquitolando, com uma asa a arrastar, lá se dirigiu para o formigueiro. Bateu-tique, tique, tique. Aparece uma formiga friorenta, embrulhada num xalinho de paina.
  • Que quer?- perguntou, examinando a triste mendiga suja de lama e a tossir.
  • Venho em busca de agasalho. O mau tempo não cessa e eu... A formiga olhou-a de alto a baixo.
  • E que fez durante o bom tempo, que não construiu sua casa?
A pobre cigarra, toda tremendo, respondeu, depois de um acesso de tosse:
  • Eu cantava, bem sabe...
  • Ah!... exclamou a formiga recordando-se. Era você então quem cantava nessa árvore enquanto nós labutávamos para encher as tulhas?
  • Isso mesmo, era eu...
  • Pois entre, amiguinha! Nunca poderemos esquecer as boas horas que sua cantoria nos proporcionou. Aquele chiado nos distraía e aliviava o trabalho. Dizíamos sempre: "que felicidade ter como vizinha tão gentil cantora!" Entre, amiga, que aqui terá cama e mesa dsurante todo o mau tempo.
A cigarra entrou, sarou da tosse e voltou a ser a alegre cantora dos dias de sol.

Monteiro Lobato


A FORMIGA MÁ 
Já houve, entretanto, uma formiga má que não soube compreender a cigarra e com dureza a repeliu de sua porta.

Foi isso na Europa, em pleno inverno, quando a neve recobria o mundo com seu cruel manto de gelo.
A cigarra, como de costume, havia cantado sem parar o estio inteiro e o inverno veio encontrá-la desprovida de tudo, sem casa onde abrigar-se nem folinha que comesse.

Desesperada, bateu à porta da formiga e implorou - emprestado, notem! - uns miseráveis restos de comida. Pagaria com juros altos aquela comida de empréstimo, logo que o tempo o permitisse.

Mas a formiga era uma usurária sem entranhas. Além disso, invejosa. Como não soubesse cantar, tinha ódio à cigarra por vê-la querida de todos os seres.

- Que fazia você durante o bom tempo?
- Eu... eu cantava!...
- Cantava? Pois dance agora, vagabunda! - e fechou-lhe a porta no nariz.

Resultado: a cigarra ali morreu entanguidinha; e quando voltou a primavera o mundo apresentava um aspecto mais triste. É que faltava na música do mundo o som estridente daquela cigarra, morta por causa da avereza da formiga. Mas se a usurária morresse quem daria pela falta dela?

"Os artistas - poetas, pintores, músicos, escritores - são as cigarras da humanidade".

Monteiro Lobato

sábado, 22 de dezembro de 2012

ENTENDER COMPREENDER


Entender  totalmente outra pessoa é praticamente impossível; porém, qualquer  SER que se dedique ao auto conhecimento já retratará um traço diferenciado... 

Para mim, o problema é a palavra "equilíbrio" e suas distorções produzidas nesse mundo de aparências...
Ou seja, sob o "pretexto" do tal "equilíbrio" "as pessoas" têm a tendência da superficialidade em tudo o que fazem...

Todas as pessoas com quem convivi são mais significantes em minha vida, na medida em que compartilharam comigo a experiência do auto conhecimento. 


Ocorre justamente que sem a interferência desse tal "equilíbrio exterior" (que vem de fora para dentro),  o autêntico auto conhecimento exige de todos nós uma tomada de consciência em que compreendemos exatamente os limites dessa nossa condição humana; onde nem sempre "ganhamos" da forma como somos "programados" a crer como possível... 

No fundo a ciência da vida está na aceitação da dor como uma das faces do amor.

//Por isso geralmente tudo o que escrevo se afigura para mim muito profundo e ao mesmo tempo simples - pois busco literalmente pensar aquilo que vivencio... 



   E essa não é uma questão de ter dinheiro ou não; ou de ter posses econômicas;  ou de ter um curso 
   superior ou pós doutorado ou não... 

   Sinto que é realmente uma pena quando a mente está no controle total dessa nossa curta passagem neste plano... 

                     
                      Claudio Pierre

quinta-feira, 20 de dezembro de 2012

CÂNDIDAS

mais do que simples calma
ou falta
do que fazer
ou tempo
para tudo
que
se quer
mais do que isso
preciso
de largar as vestes
da obrigação
em cima da cama
e a – pagar
as palavras
doídas
as cortantes
as rasgantes
as pérfidas
para
dar
lugar
às cândidas
mas eis que me falta
espaço
para tanto
o manto
que me cobre
precisa
de azul
estaria
nua
a calma
que me
veste?

terça-feira, 18 de dezembro de 2012

MATUTO II



  

A Poesia é um espelho,
Que reflete a Imagem de um Sonho Multicolorido.
É um som de um tambor emudecido,
Tal como o aviso de um suspiro d´alma.

A Palavra é uma febre que assola a mente,
E o Espírito delira traduzindo emoções transcendentais...

Nos meus sentimentos
Todo o Poeta é Matuto.
Refletindo um suspiro, que se repete,
Que se procura traduzir sempre a Esperança e a Fé
Na sua Expressão delirante.

Agoniza o Ser na sua Sina
Deslumbra seu momento, sua Certeza de Matuto.

          Claudio Pierre 
(Do registro de Poesias Mostragem)

sexta-feira, 14 de dezembro de 2012

CONSOLO NA PRAIA

Consolo na Praia
                                        Carlos Drummond de Andrade
 
Vamos, não chores.
A infância está perdida.
A mocidade está perdida.
Mas a vida não se perdeu.

O primeiro amor passou.
O segundo amor passou.
O terceiro amor passou.
Mas o coração continua.

Perdeste o melhor amigo.
Não tentaste qualquer viagem.
Não possuis carro, navio, terra.
Mas tens um cão.

Algumas palavras duras,
em voz mansa, te golpearam.
Nunca, nunca cicatrizam.
Mas, e o humour?

A injustiça não se resolve.
À sombra do mundo errado
murmuraste um protesto tímido.
Mas virão outros.

Tudo somado, devias
precipitar-te – de vez – nas águas.
Estás nu na areia, no vento…
Dorme, meu filho.


Meu comentário => Poesia de Drummond é uma lição de vida. A Poesia acima dentre outros ensinamentos indica o quanto deveríamos desenvolver a capacidade de Tolerância em nossas Vidas.
Independentemente de holofotes Drummond é um Grande Poeta por musicar e pintar com palavras a Simplicidade que é tão fundamental para nossas existências.  

terça-feira, 11 de dezembro de 2012

A SOLIDÃO NA CALMARIA DA NOITE




Na calmaria da noite,
A minha mente aprisionada pela Solidão dos Sós,
Reflete sobre essa nossa Condição Humana – buscando a completude...

Sempre questionei a Imensidão de Estrelas que se encontram aflitas por não encontrarem a Luz...
Seja o Destino, a Sina, o Caminho atroz – o fato é que as noites sem resposta, traduzem certa agonia...
Uma certa procissão que se caracteriza, no Tempo, como um dos sintomas de nossa fragilidade perante a existência.

Se somos mesmo tão pequenos e passíveis desse estado ao longo de nossas existências,
Por certo, um sentido de Oração pode produzir um alento de fé, na superação desse traço.

Pois a noite vem, e na incapacidade de uma solução que satisfaça nossos sentidos limitados, quiçá na Aurora de um novo Amanhã, 
possamos despertar com uma renovada esperança contida na promessa de uma Prece 

Em que nos reconheçamos como grãos de areia, interligados com uma cadeia de unidade, comprometidos com uma atitude de evolução.        
  
                        Claudio Pierre
(Do registro Oração) 

Meu comentário => "Estrelas aflitas por não encontrarem a luz..." /"Noites sem resposta..." - são algumas das expressões que brotaram espontâneamente em meu íntimo como uma Oração.
Tenho encontrado muitas "respostas" meditando na cadeia da unidade. No entanto essa dimensão só estará acessível aquele que se dispuser a pagar o preço de simplesmente Ser.