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quarta-feira, 30 de maio de 2012

MAIA

E lá vão os homens e mulheres
Produzindo sonhos, construindo o dia-a-dia...

Marchando em prol de um Progresso exterior
Automatizados pela ambição que gera desigualdades.

Pobres de nós,
Proclamamos aos céus - Progresso!
E temos sido tão culpados pela Ilusão de nossa Sociedade Robotizada.

Talvez o silêncio, talvez a dor
Quem sabe essa própria existência,
Marcada tão profundamente por Maia
Seja um estágio, umaetapa de Evolução para a Claridade.

  Claudio Pierre

Do livro de Poesias Caminho(s)

Meu comentário => Não vejo com bons olhos a luta de classes buscando a ostentação a partir do Ter.
Essa tônica move a vida da maioria das pessoas e reproduzem a "zona", dessa Sociedade tão estressada e distanciada dos valores do Ser.

FOME ZERO - proclamou um partido político que só vizava o Poder.

A fome não é unicamente de comida, mas também de HUMANIDADE => respeito ao Ser Humano, o que nada tem a ver com o Poder Humano voltado as "panelinhas" e "apadrinhamentos".

Se essa Fome não for saciada, tudo será meramente uma questão de Compra e Venda.

segunda-feira, 28 de maio de 2012

A DANÇA DOS DEUSES

Pus toda a minha alma numa canção
que cantei para os homens. E os homens se riram!

Tomeu meu alaúde, fui sentar-me no topo de uma
                                                                        montanha
e cantei para os deuses a canção que os homens
não tinham entendido.

O sol baixava. Ao ritmo da minha canção, os Deuses
                                                                         dançaram
nas nuvens encarnadas que flutuavam no céu.

Li Po
- extraído do livro Poemas chineses
(tradução Cecília Meireles)

segunda-feira, 21 de maio de 2012

A UNIDADE DA VIDA

Por volta de 1982 eu trabalhava em um escritório de uma Editora de livros jurídicos.

Certa vez o responsável pelo escritório levou seu filho, que tinha aproximadamente 12 anos, e que era uma criança muito estudiosa e inteligente.

Tivemos um diálogo que resumidamente consistiu no seguinte conteúdo:
Perguntei a ele o que ele fazia e estudava, e ele me apontou uma série de atividades e interesses voltados para sua formação geral, inclusive estudo de idiomas.
Era um menino considerado popularmente "cdf" ou "Nerd" nos padrões sociais.

Porém em minha avaliação se tratava de alquém que tinha o estímulo adequado e proporcional com total apoio dos Pais.

Mas o mais interessante, foi quando ele me perguntou:
E você tio? Quais são as suas atividades e interesses?

Foi quando lhe falei que entre 10 e 11 anos, tinha iniciado meu estudo de Violão e Teoria Musical, e a partir daí vinha adicionando ao longo do caminho áreas de interesse voltadas para as Artes e Meditação.

Foi quando ele retrucou:
- Tio você não me entendeu, quiz dizer o que Sr. faz de "ÚTIL".

//

Sempre que posso reproduzo esse diálogo, para contextualizar algo que minha  experiência só vem a confirmar, à despeito do que alguns dizem por aí.

As áreas abstratas, ou seja, as "áreas inúteis" não tem o devido respeito de uma sociedade estruturada materialmente.

E o grande problema ao meu ver consiste simplesmente na divisão que estabelecemos da Unidade.

De modo que as páginas desse Blog, não são meramente "palavras inúteis"; bem como todo o rico Universo Artístico que move qualquer pessoa que busque traduzir o sentimento subjetivo ao seu redor.

É esse o sentido que prevalece em meu caminho - Ser um instrumento da Arte nas atividades que desenvolvo.

Poexistência é valorizar a Consciência da Unidade - que vem a rebater a ignorância da divisão do que é "útil" e "inútil". 

Claudio Pierre   

domingo, 20 de maio de 2012

MAIA

Como posso ser normal se minha mente não se alimenta de
esperanças,
Naquilo que minha potencialidade me conduz.

Se a escola me deseduca de aprender Liberdade.

Onde o conhecimento é chave em mãos de um deus vulgar e
mesquinho, que vende a idéia de superioridade - uns sobre os
outros.

Como posso Ter Energia, satisfação pessoal - sensibilidade e
alegria pela vida, se sou projetado para ser como um barco à deriva,
naufragando em um Oceano que não me conduz a lugar nenhum.

         Claudio Pierre

(do livro de Poesias Caminho(s)

=> meu comentário: Quando o acesso a "educação" ao "diploma formal" é apenas uma condição de mercado para "ganhar mais"... Quando o "conhecimento" passa a ser adquirido sob a "pretensão" de superioridade de "uns sobre os outros", e não como ferramenta para transformação e valorização da humanidade - ao meu ver, perdemos a conexão com a nossa natureza humana.

Por essas e por outras é que a Arte, e consequentemente o Artista que busca desenvolver elementos relacionados com a sensibilização da essência do Ser, tem sua expressão geralmente "atropelada" e "sufocada" por uma "estrutura de mercado" que não concede espaço para o subjetivo, e com isso "padroniza" o que considero indústria de entretenimento a serviço de uma única diretriz voltada exclusivamente para o lucro material.

Nesse contexto pouco importa o valor e a qualidade da mensagem artística, desde que atenda aos princípios de um determinado "modelo de sucesso".

É então que para aquele mais desavisado: - "Qualquer coisa serve"...

sábado, 19 de maio de 2012

ALERTA

Há um alerta estampado em cada rosto, trancafiado no fundo de cada consciência:
- Estamos mal, somos produtos do medo...

Não adianta taparmos o sol com a peneira,
A vergonha pelo orgulho de sermos "tidos" criadores,
Se nem ao menos podemos viver em paz.

Quando a solidão de uma existência vazia nos sufoca - recorremos ao sonho que embriaga.

Onde estão nossos meninos de rua, nossa alienante idéia de "curtir a vida"
Nossa herança de aflitos - prostrados na telinha que faz plim-plim
- vampiro eletrônico de nossa Energia.

Onde nossa Esperança; nossa Redenção; nosso poder de construção.

E pensar que toda essa capacidade criadora tem sido sugada por uma estrutura corrupta:
De governo, de políticos, de Imperialismo; a troco de uma Ilusão tão fugaz e vazia
- O poder dos poucos sobre os muitos - Zumbis do sempre.

Não se constrói a Esperança por detrás da estrutura imbecil de que fazemos parte.
Não dá prá enxergar um novo horizonte a reboque de tanta trapalhada.

O Alerta parte da consciência Individual, sem esse barulho infernal de nossa Natureza Robotizada.
     
    Claudio Pierre

=> do livro de Poesias Caminho(s)

=> meu comentário: Transformar ou mesmo contribuir de alguma forma para melhorar o mundo - essa é a "sugestão" que recebemos ao longo de nossas vidas juntamente com o conceito de que somos realmente os "cidadãos da sociedade"; contudo, as próprias estruturas da sociedade não desenvolvem e efetivamente possibilitam o exercício prático dessa condição.

Assim, essa "programação da globalização" acentua a solidão sinalizando para uma padronização de uma única forma de Pensar e seguir em uma única direção.
Ao mesmo tempo a telinha com sua "programação alienante", contribui para a imbecilização da consciência sobre valores do Ser.

Nesse contexto as cidades acentuam em muito os problemas sociais, a violência e a desumanidade de forma geral; afinal, vivemos sob a "ilusão" de que o que se passa exteriormente, ou seja, no plano material represente a Realidade; enquanto que aquele movimento subjetivo e interior de nossa consciência transcendente seja ignorado.

Esse é o efeito da "Roda Viva" tão bem caracterizado por Chico Buarque.

No entanto, sou daqueles que acreditam que o poder da Consciência Interior seja bem mais real do que se supõe.  

sábado, 12 de maio de 2012

Dedicatória

Árvore genealógica - herança que recebemos ao longo das gerações que nos antecederam: Nossos avós, pais, tios, irmãos, da qual se originam nossos filhos que nos sucederão...

Dedico esse livro a esta corrente sem começo e fim, na qual consciente ou inconscientemente se estabelecem nossos passos.

    Claudio Pierre

=> Dedicatória que abre o meu livro de Poesias Caminho(s).
Comentário => Dentre as coisas belas nessa Vida as lembranças que guardamos de nossos entes queridos. 
Deixo essa dedicatória para complementar os registros de Prosa e Poesia que foram feitos anteriormente aqui no Poexistência sobre uma das personagem mágicas de nossas vidas que são nossas Avós.
A todos os que tiveram a oportunidade de registrar no coração essa saudade sempre presente.  

sexta-feira, 11 de maio de 2012

Vó Sofia

Quando minha avó materna não estava de acordo com alguma coisa, dizia: Eu passo! (como se diz em uma rodada de cartas, no buraco). Também fazia a melhor sopa de feijão e o melhor bolo de aipim que já comi. Ela era cearense, de família numerosa, tendo trabalhado na agricultura e em fábrica de filó ainda adolescente, quando a família se deslocou para Pernambuco por falta de condições locais. Até hoje me lembro de minha avó e minha tia contando sobre a Societé Cottonière du Nordest du Brésil, localizada em Morenos (PE) – possivelmente uma precursora da SANBRA (Sociedade Algodoeira do Nordeste do Brasil, hoje vendida à holandesa Bunge, um conglomerado multinacional de alimentos e fertilizantes). Pelo visto, o nordeste do Brasil ainda é holandês ...

Voltando ao tema principal, minha avó Sofia era realmente uma pessoa sábia: apesar de só ter a educação básica, era a pessoa mais serena e equilibrada que já conheci. Fazia umas toalhas de crochê maravilhosas, algumas para vender, com o que complementava o minguado orçamento doméstico (minha tia Yvette, com quem vivia, era professora do SESI: dava aulas na comunidade do Turano na Tijuca e trabalhava no Juizado de Menores, mas o salário, ó ...). Vó Sofia gostava de jogar paciência e sueca e, talvez como resquício de alguma ancestralidade indígena desconhecida, também gostava de mascar tabaco - o que fazia escondido, para não ser censurada.

Adorava torrada e era incapaz de jogar pão fora, por motivos meio religiosos. Quando sobrava pão demais em casa, até mesmo para fazer torrada, e não havia ninguém a quem dá-lo, ia jogar os farelos no Rio Maracanã ('para os peixes', segundo ela). Acredito que naquela época já não havia peixes naquele rio, mas vejo hoje que era um ato simbólico: ela, que chegara a passar privações na infância, não admitia jogar pão no lixo, além de ver no pão o corpo de Jesus.

Sinto falta dela, de sua cadeira de balanço, do seu jeito calmo e bem humorado. Era, a meu ver, uma pessoa iluminada, sinônimo de bondade e paz. Abro essa janela de prosa na poesia só para falar dela.

terça-feira, 8 de maio de 2012

Vi olhares desconfiados
Sobre a espontaneidade da pureza
Infantil do Ser que vivia a Liberdade.

Percebi a altivez nas relações interpessoais, como se
Todos fossem inimigos entre si e se mascarassem da real
Identidade d´alma.

Ouvi um sem número de vozes...
Excesso de teorias, erudição, mera competição de retórica, de conhecimento.
Um ruído angustiado que sufocava a mais significativa
Oração de silêncio, pela pacificação Interior.

Suportei um lapso de existência que não me permitiu
Vibrar integralmente minha sina, meu caminho.

Fui feliz por aceitar a oportunicade de errar, de voltar, de me unir.

- Optei pelo Amor!

Claudio Pierre => do livro de Poesias Caminho(s)

Meu comentário => Sob certo ângulo, parece que estamos lutando uns contra os outros, seja dissimuladamente, seja diretamente... Os valores "Globalizados do Ter" suplantam o Ser em cada Coração.

A desconfiança sobre o "outro", muitas vezes, reflete a incapacidade de realmente transformar a Sociedade em que vivemos, exercendo nossa capacidade de discernimento sobre a qualidade das relações humanas.

E decididamente essa não pode ser apenas uma mera expressão de retórica.

segunda-feira, 7 de maio de 2012

....

Ânsia de chegar
Sentido de competir.
Correr, ser o melhor
Por quê?!

O Relógio Humano é um pouco assim
- Apressa a pulsação natural dos Corações.

A Humanidade é um pouco assim
- Se atropelando, se autodevorando, pela ilusão fugaz da medida do tempo.

Claudio Pierre => do livro de Poesias Caminho(s)

Meu comentário => Grande parte da ilusão programada vem da idéia de: "Ser o melhor, nisso ou naquilo..."... 
Somos estimlados a "correr" para competir sempre e subjugar numa corrida contra o Relógio Humano, pois afinal - "tempo é dinheiro!".

Nunca me conformei com essa "programação" - por isso busquei um espaço interior de controle sobre a ansiedade. Creio na pulsação natural do coração. Nesse sentido, compreendi que não estou aqui para competir e correr, mas sim para buscar a felicidade possível em meus sonhos mais profundos e singelos.

Como diria um amigo músico baiano que conheci: "Sou atochado por isso..."   

quinta-feira, 3 de maio de 2012

FEIJÃO DE SOL

O feijão da minha avó
tinha um gosto
só dela
desses
de quem detesta cozinhar
mas não sabe 
nada fazer
sem colocar
suas pitadas
de sol
(não me lembro nunca das jantas)
nas panelas pretas
desde que ela
parou de cozinhar
às voltas com memória curta
e pernas cansadas
eu não como mais feijão
ninguém entende
meu jejum antigo
minha cara de nojo
diante dos caroços aguados
é tempero pronto
alho
cebola
etc
nada tem graça
tudo sem graça
falta a pitadinha
de sol
da minha avó


(Fabiana Esteves)

quarta-feira, 2 de maio de 2012

IMPROVISO (Homenagem ao Zen Budismo)

Sonhei que o vôo da Alma
Era como uma seta
Que mirava o Alvo na Direção do vazio...

Ao Encontro da Extensão do Ser Sobre-humano que Habita em Nós.

Claudio Pierre - do livro de Poesias Caminho(s)

Meu comentário => Registrei uma frase interessante de um dos grandes músicos que admiro Winton Marsalis, ele disse: "Todos querem ser heróis, mas no entanto, poucos se dispõem a enfrentar o dragão"...

O vôo da Alma não permite concessões => "acomodações" próprias de uma "programação mental" que sinaliza para apenas uma direção da idéia daquilo que seria viver confortavelmente...

Quem se dispõe a viver no Caminho da Arte não pode evitar o confronto com o dragão.