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quinta-feira, 3 de maio de 2012

FEIJÃO DE SOL

O feijão da minha avó
tinha um gosto
só dela
desses
de quem detesta cozinhar
mas não sabe 
nada fazer
sem colocar
suas pitadas
de sol
(não me lembro nunca das jantas)
nas panelas pretas
desde que ela
parou de cozinhar
às voltas com memória curta
e pernas cansadas
eu não como mais feijão
ninguém entende
meu jejum antigo
minha cara de nojo
diante dos caroços aguados
é tempero pronto
alho
cebola
etc
nada tem graça
tudo sem graça
falta a pitadinha
de sol
da minha avó


(Fabiana Esteves)

3 comentários:

almadelua disse...

Fabiana.
De certa forma já fiz esse comentário: Suas poesias contém situações e circunstâncias que envolvem o seu cotidiano - essa é a grande simples e bela mensagem...

Conheci um pouco de sua Avó...

E Avó como Mãe são potencialmente os nossos "anjos da guarda".

Com afeto,

Claudio Pierre

Apelido disponível: Sala Fério disse...

Que legal! As avós são seres meio místicos. Gostei!

Apelido disponível: Sala Fério disse...

Obs.: Fiquei com inveja do teu poema sobre tua avó e escrevi algo sobre a minha também. hahaha bjs