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quinta-feira, 30 de agosto de 2012

SEQUESTRO

Para onde me foram levadas
as cores que sempre amei
ou que podia amar
ou até repudiar
se me desse na telha
tu me sequestraste as cores
e poucas escolhas
ficaram no fundo do armário
que teimou em colecionar
peças proibidas
guardou nas gavetas
um fundo falso
onde pus as minhas peças
arcoirescas
bruscas
chegantes
elas ficaram lá
não descolori
de todo
ficou aquele suéter
do tempo do ronca
quando roncar era bonito
e música de sono tranqüilo
meus barulhos hoje
são outros
fazem silêncio no corpo
e meio que exaustos
resolveram juntar-se à minha
indumentária
condenada
pelo esquadrão da moda
e pelo amor que eu pensei
ser meu
mas era de
outra
que eu nunca fui
mas que de quinze anos pra cá
me persegue no espelho.

Fabiana Esteves

ACERCA


Ele disse que vinha voando.
Mastempos
eu pus
grades
redes
telas
nas janelas.
Ele disse que me inspira.
Mastempos
eu pus
ponto final
nos versos.
me restam frases feitas.
Ele disse que pulava da pedra
mais alta.
Mastempos
eu pus
camas infláveis
imensas.
Ele disse que pulava o muro.
Mas fora
cercas
eletrificadas
alarmes
sensores de presença...
Ele disse que vinha me acordar.
Mastempos
não durmo.
Nãomais
como
fechar os olhos.
Ele então mudou os planos.
Nada disse.
E eutempos
não ouvia
o silêncio.
Pouco pude fazer.
Ele disse que vinha me beijar.
Como se proteger
de uma canção?

 (Fabiana Esteves)
(28/01/2012 – ouvindo “Soprano”)

Para Reflexão

A Globalização proclama que nesses "Novos Tempos Modernos" para que estejamos de
fato ligados ao mundo, basta que fiquemos "antenados" de preferência 24h a rede, de
modo que uma mensagem postada/trocada seja por um: Site, Twiter, Facebook ou Blog,
por exemplo, crie a ficção de que somos "celebridades" (esse conceito me dá arrepios...).

Assim, enfim temos a ilusão de que nossa mensagem está conectada ao mundo, como se
entre bilhões de habitantes, fosse possível realmente a pretensão dessa exclusividade.

Mesmo os entitulados grandes artistas, sejam eles impulsionados pela mídia predominande
de hoje; seja pelo seu exclusivo talento em sua respectiva área - sempre estarão restritos a
determinado horizonte de visibilidade... Isto porque, existe um traço de nossa essência humana
que corresponde a uma certa "solidão" um certo "anonimato" da nossa limitada natureza humana.

De modo que "Os Tempos Modernos da Globalização" mascaram a essência, muitas vezes
deliberadamente para faturar sobre esse conceito tão vazio...  

É necessário portanto ter noção de nossas limitações bem como, de preferência, atuarmos da
maneira mais criativa possível em nossos passos.  

quinta-feira, 23 de agosto de 2012

IMAGENS / MIRAGENS

A ilusão me vende Imagens...
- Não quero me interiorizar.

Esqueço os problemas assistindo mil vezes o mesmo programa de TV...

O blá-blá-blá me faz "Alegre"
- Não quero me interiorizar.

Esqueço os problemas sorrindo mil vezes o mesmo sorriso,
Conversando mil vezes a mesma conversa,
Vivendo 99% exteriormente: nas esquinas, nos bares, na cama...

O que é profundo não me agrada
- Não quero me interiorizar.

Não preciso do profundo,  vivendo 99% exteriormente - tudo é maravilha,
tudo é tão mais fácil.

Não há nada a temer, tudo está a meu favor, vivo intensamente o meu tempo.

Até quando?

Bicho Homem.
                            
                Claudio Pierre (do livro de Poesias Caminho(s))

=> Meu comentário - "O moderno"... Chega a ser patético o fundamento que sustenta a
pouca profundidade nas relações sociais. Nesse pacto as "massas" aceitam simplesmente
um determinado padrão: seja televisivo; seja imposto na propaganda que vende a cerveja
e o consumo desenfreado; seja na indústria do entretenimento do oba oba; seja na linguagem
"codificada" das páginas sociais, onde prevalece muitas vezes o conceito frase vazia "empty
statements"- na troca de comentários monissilábicos: - Gostei ou não gostei... // É bom ou mau...
 // Amei ou odiei // e o famoso rsrsrsrs.../// ou seja, é evitado qualquer comentário um pouco mais profundo, pois no "mundo moderno" - ler e quiçá refletir sobre uma mensagem mais longa equivale
a "perder" tempo...

quarta-feira, 15 de agosto de 2012

ORION

A primeira namorada, tão alta
Que o beijo não alcançava,
O pescoço não alcançava,
Nem mesmo a voz a alcançava
Eram quilômetros de silêncio.

Luzia na janela do sobradão.

                                Carlos Drummond de Andrade 


Meu comentário = > A sofisticação da Poesia está na pureza de sua expressão... Drummond não escreveu pensando em ser um Grande Poeta; simplesmente, ele acreditou na manifestação da
pureza de suas experiências cotidianas...

Em muitas das Rodas de Poesia que participei, verifiquei que muitos se consideram "diminuídos"
recitando suas Poesias em "comparação" a um Grande Poeta como Drummond. Rebato essa idéia
considerando que toda a experiência poética tenha um que de pureza - basta acreditar realmente nessa
possibilidade.

terça-feira, 14 de agosto de 2012

PARA REFLEXÃO

"Numa peregrinação a cada passo, você está se aproximando de Deus.
E a cada passo que dê em direção a ele, são dados dez passos dele em
direção à você.
Quando a estrada termina, e o objetivo é cumprido,
O peregrino sente que viajou apenas de si para si mesmo...
E o Deus que encontramos estava o tempo todo dentro de nós,
Ao redor de nós, conosco e ao nosso lado". 
                                                 
                                 Satya Say Baba

quarta-feira, 8 de agosto de 2012

PAIXÃO

Vem enquanto meus braços estão abertos,
Vem enquanto meu corpo se encontra morno
Pouse em mim,
Repouse em mim.

Levante seus olhos e veja o quanto é terno o meu pedido,
Apalpe com ternura, o ar entre os seus dedos
- Vem comigo,
Vamos cuidar de proteger o arco-íris.

Contemplemos o sol e o céu, e à noite
Respiremos com as estrelas.
Vamos fundir tempo e espaço,
Ultrapassar montanhas...

Permita que eu toque em sua alma sem fazê-la escrava,
Permita que eu relembre das torturas porque passei e passo...
Sim! A vida  me ensina a sofrer e amar por você.

Vem enquanto é possível,
Vem enquanto formos um só.

Mas, antes quero que saibas...
A vida traz consigo o enigma indecifrável do Surpreendente.

     Claudio Pierre
(do registro de Poesias - Mostragem)

sábado, 4 de agosto de 2012

DELÍRIO

Eu quero voltar a sentir na pele o gozo perdido
A sensação que me complemente e me faça mergulhar em um único
corpo, numa única direção.

Quero sentir a paixão febril ao meu corpo ardente de calor,
Na emoção de um Abraço, no contato de nossos sexos
- sem preconceitos, sem hipocrisias...

Estou delirando porque perdi esse encantamento, essa predisposição
apaixonada.
E todos nós perdemos um pouco desta Magia,
Na medida em que o Relógio Humano nos existe o compromisso que
aprisiona.

Estou em Maia porque meu olhar carente busca a cumplicidade
perdida ao meu redor - sem direção.

O ser é escravo de sua natureza errante e de seu olhar...

Escravos somos de nossa própria Condição Humana.

    Claudio Pierre
(do livro de Poesias Caminho(s))

meu comentário => Em uma de minhas poesias escrevo: "Solidão- fada singela, liberta a Imensidão de Estrelas aflitas por encontrarem a Luz"...

Assim como em uma de minhas composições instrumentais - Mistérios da Criação.

Considero que uma das funções da Arte seja justamente vasculhar os enigmas de nossa escravidão;
bem como, revelar esse contexto com relação a nossa condição humana...

Aquele que busca somente palavras, não pode compreender a extensão de um pensamento / sentimento que brota na Poesia.