Sim; o sistema globalizado, os
governos, os governantes, a sociedade, agonizam. Porém, não podem “contaminar”
algo que tem raiz na simplicidade original, na essência que está contida em
cada consciência.
Essa essência subjetiva brota
do movimento natural, que requer muito esforço, contínuo aprimoramento, e que
fundamentalmente, percebe essa nossa Condição Humana, como frágil. Que encerra a
compreensão de que fazemos parte de um Ciclo; estando naturalmente sujeitos ao movimento de que não podemos “ganhar
sempre”, indicando que precisamos
entender que as perdas fazem parte do movimento da vida onde nas dificuldades
formamos nosso caráter.
Não tenho a ilusão de crer que
vibrações semelhantes as minhas tenham o poder de modificar humanamente o
mundo. Considero por minha formação simpática ao Taoísmo, que esse tipo de
evolução não existe nesse ciclo.
Ceio que seja, sobretudo uma
questão de escolha – quanto maior a ilusão do Poder que desnivela e conduz a
competição e a idéia de não perder; menor a consciência sobre a humanidade
contida em nosso interior.
Quanto mais nos deixemos
“programar” e “hipnotizar” pelo frenético movimento de uma comunicação
essencialmente voltada para o apelo do ter sobre o ser, tudo o mais repetirá
uma tendência de um mercado de compra e venda.
- Quem quer dinheiro?!? Sob
esse slogan se construiu um Império.
Essa é a “lógica” que nos tem
programado no nível de massa a crer que existe apenas um modelo, a ponto de
popularmente serem corriqueiras expressões como:
- “Amigo é dinheiro no
bolso!!!
- “Sou profissional, trabalho
aonde pagam mais...”.
Ou seja, quem não está dentro
dessa programação está fora – à margem do “Social”.
E a sensibilidade???
Como encontrar nas atividades
cotidianas esse precioso espaço subjetivo e imprescindível para o exercício da
humanidade, se grande parte das consciências têm sido anestesiadas pela pressão
do competir sempre para ter que girar essa Roda / Sânsara...
A nossa mente se sobrecarrega
além da conta, e passa a exercer total supremacia sobre o nosso Ser e o nosso
Sentir; de forma que o movimento das massas é toda premeditação, na lógica: - O
que ganharei em troca?!!
Como artista, venho observando
esse diferencial, até entre os próprios artistas (que também são seres)...
O espaço da sensibilidade está
sendo contaminado pela mera lógica do mercado, do relógio, da pressa do dia a
dia.
Existem dois conceitos que
deveriam representar a mesma coisa – Ação e Atividade; porém, cada vez mais
estão expressando essa enorme distância entre a sensibilidade e a sua ausência.
ð Atividade – passa a ser
a grande válvula de escape, que a nossa mente perspicaz utiliza para que
“maquiemos” nossa alienação sub humana, criando com isso a ilusão de uma
pretensa Humanidade. Socialmente, precisamos de uma frenética atividade,
caracterizada pelas inúmeras “ocupações diárias”, que levam a extrema
competitividade, que geram os apelos ao consumo desenfreado...
Criamos assim a expressão => “O tempo
voa”- dessa forma, sem perceber estamos “atrofiando” nossa capacidade subjetiva
de frear e desacelerar a programação de um Relógio Humano, imposta pela nossa
própria mente - que não corresponde exatamente a realidade plena; e adentrar na
consciência do Tempo real que simplesmente passa...
ð Ação é sutil, seria uma
atividade que “brota” do interior (do sentimento) – requer para isso um espaço
interior subjetivo que não está condicionado ao comando “exclusivo da mente”.
A ação surge da interação
entre o Ser, Sentir e o Pensar – decididamente, ela não poder ser
“programada”/”imposta” de “fora” para “dentro”. Sua sede é o coração e o
sentimento em harmonia com a razão.
Por isso ela não é “mecânica”,
“Social”, “convencional”.
Ao que parece – conceitos e
palavras – tem o incrível poder de hipnotizar consciências que se deixam
“programar” – esse é o efeito sobre as massas.
A partir daí, se estabelecem
critérios sobre o que seria ou não realidade.
Assim, para exemplificar
alguns aspectos, na hipnose coletiva das massas, existe um determinado conceito
que está diretamente ligado à base daquilo que considero uma das principais
habilidades do Ser Humano que seria buscar a realidade do sonho possível, que sofre com a “programação”
que incute a oposição entre: Esse conceito proclama Trabalho x Ideal – levando ao entendimento de que todo o processo
que leve ao ideal, nem sempre isento de luta, representa uma ilusão; e que a
realidade determina o caminho mais curto – exercer uma atividade ao longo de
toda uma vida em troca de dinheiro, muitas vezes sem nenhum laço emocional com
essa atividade – comparado à prostituição.
Ou seja, quem entra nesse circuito,
corre o risco de ficar aprisionado nesta cadeia exercendo parcialmente seu
potencial criativo, pois o seu Ideal de vida não encontrará espaço nessa
“realidade”, que o levará sempre a essa racionalização => trabalho x prazer.
Mesmo aquele que consegue
êxito em sua busca pelo ideal, corre o risco de que em nome da tal
“independência financeira” – venha a trilhar situações de vida que nada
acrescentem ao seu movimento integral e subjetivo de Humanidade; ou seja, na
ótica exclusiva do conceito e da palavra ele fará qualquer coisa com o objetivo
de ganhar mais dinheiro – viverá em função disso.
A essência do problema não está ligada como se
poderia supor ao dinheiro.
O dinheiro passa a ser somente
uma manifestação de uma “válvula de escape” para por meio de um apelo contumaz
de um ímpeto frenético de compra e venda compensar o nosso descontrole em
frear, desacelerar a programação acelerada que herdamos de uma sociedade
automatizada e globalizada, que conclama para uma única direção.
Existe, portanto, certa
relação com o Poder, no sentido de competição, de levar vantagem sobre “o outro”;
que no fundo revela justamente um desencontro com nossa essência interior.
Em suma, falta o devido
diálogo com a consciência pura que habita em nosso interior, e que absolutamente
não está relacionada com um padrão de linguagem que possa ser “manipulado” exclusivamente
pela mente, com suas racionalizações e artimanhas “socialmente lógicas” do Ter
sobre o Ser.
Claudio Pierre
(Do Registro Diálogos Consciência / Discursos de um Plebeu)