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domingo, 27 de abril de 2014

COMENTÁRIO

         O que seria participar de um Grupo?!?


Penso que nesse "mundo contemporâneo" (no fundo mais uma das "ficções da mente"...) somos "programados" e "estimulados" a estabelecer inúmeros contatos, como, por exemplo, no Facebook, sem a devida compreensão da importância que os mesmos podem representar para algo além do que uma mera formalidade trivial...
                      
                               Claudio Pierre

Meu comentário => Deixei de pertencer à turma do "somos" quando compreendi que o milagre da Vida, acontece relativamente, no dia a dia, quando exercitamos apesar de todas as dificuldades e obstáculos o Sagrado Ofício em nossa limitada Condição Humana da Consciência do SER. 
 

VOO (A grafia antiga era bem mais bonita...)

                                 Vôo


Sonhei que o vôo da Alma
Era como uma seta
Que mirava o Alvo na Direção do vazio.

Ao Encontro da Extensão do Ser Sobre-humano

que Habita em Nós.
  
                               Claudio Pierre


(Do meu livro de Poesias Caminho(s))


Meu comentário => Esse é o meu lema: "Perseguir a Realidade Possível de um Sonho".

sábado, 12 de abril de 2014

REFLEXÕES SOBRE A ARTE E CULTURA

Há muitos anos (não que representasse o Ideal) a fórmula que privilegiava a diversidade de manifestações artísticas consistia: dos famosos Festivais na TV´s, Circuitos Universitários, e um acesso menos burocrático de Música nas Escolas. Nessa atmosfera foram revelados diversos Músicos de qualidade, pois nesse contexto havia um nível bem maior de receptividade do público. 

Hoje, ressalvando-se as exceções, na medida em que essa perspectiva foi substituída pela ótica subliminar do Marketing a serviço da Globalização – entenda-se => lucro imediato voltado às massas, onde não existe grande preocupação com formação de consciências, pois o sentido final não é a Cultura na medida em que somos “induzidos” a ter muita pressa... enfim => “tempo é dinheiro” (e para que “perder tempo” entendendo/ sentindo uma mensagem musical mais profunda?!?)...

Nesse contexto, ganhou forma a figura do “intermediário”´- que seria aquele que “supostamente” faz o link entre a Arte e o Público – sobretudo na perspectiva atual é aquele que vai conseguir viabilizar Projetos que patrocinem o Artista em espaços para mostrar o seu trabalho; pois decididamente é quase impossível transpor esse formato sem essa intermediação.

Nesse contexto, também com exceções, esse profissional não está decididamente preocupado com Cultura, Educação, Formação de Consciências ou algo que valha. O que ele aprende é como calcular e como ganhar dinheiro em um mercado que basicamente é o de Compra e Venda.

ð  Nesse contexto tem predominado um tipo de enfoque meramente Comercial oferecido as massas – tanto no que diz respeito à Cultura quanto a Educação.

Esse fenômeno não ocorre apenas na área Musical, os tais “Empresários” atuam em diversos segmentos: do Futebol até a Educação e a Cultura...

Com relação a essa intermediação na área da Cultura, por mais incrível que pareça até respeito esse tipo de conduta; mas, decididamente não é a proposta que todo Artista concorde. Eu por exemplo, não concordo com isso, pois confio na ação transformadora/revolucionária que a Música promove no aspecto Humanidade, sendo o  Músico um Instrumento fundamental dessa mensagem.

Em função desse contexto, não só em relação à Arte e a Cultura, como também em diversas áreas focadas na Educação e na Autoconsciência, aparentemente, estamos uma encruzilhada => além da falta de qualidade e aprofundamento no ensino, inclusive o musical, que contém matérias de grande importância como percepção, teoria musical, harmonia etc...; Existe também um fator pouco aprofundado:

 => O Estudo sério requer muito esforço, paciência e perseverança, sobretudo Amor - bem como uma capacidade pessoal e subjetiva de armazenamento de Energia Vital para esse processo subjetivo e contínuo de desafios => são essas dificuldades / obstáculos  que fazem a diferença entre aprender mesmo alguma coisa ou não... Esse Espírito de Estudo é que dá Juventude.

=>Estudar com seriedade não é “um passeio descompromissado pelo parque”...

=>Estudar com seriedade não é algo que se obtenha como uma moeda de troca para uma mera obtenção de títulos “comprados” à custa de um período “fatídico” que tão logo finalizado será devidamente “deletado”, pois o objetivo final foi a ascensão monetária que  determinado título acadêmico conduz...

Por essas e por outras, hoje em dia o  que predomina é essa inércia coletiva que aceita a tese de que “qualquer coisa” => desde que seja veiculada nesse “formato midiático”, seja expressão de Cultura.

Parece-me que essa tese é uma “típica manipulação” que atende a um mercado de consumo voltado para as massas que ignoram algo tão precioso e sutil como a essência do conhecimento – seja ele formal ou informal.     

 A verdadeira Arte Musical está num patamar muito além daquilo que convencionamos a crer socialmente "como um mero entretenimento"...  

E a impressão do ouvinte, devidamente consciente e culto (formal ou informalmente) é sagrada; bem como a inspiração que motiva o compositor a criar.




      Claudio Pierre

quinta-feira, 10 de abril de 2014

GRANDE CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE

Morte no avião 
                       Carlos Drummond de Andrade


Acordo para a morte.
Barbeio-me, visto-me, calço-me.
É meu último dia: um dia cortado de nenhum pressentimento.
Tudo funciona como sempre.
Saio para a rua.
Vou morrer.

Não morrerei agora.
Um dia inteiro se desata à minha frente.
Um dia como é longo. Quantos passos na rua, que atravesso.
E quantas coisas no tempo, acumuladas.
Sem reparar,
sigo meu caminho.
Muitas faces
comprimem-se no caderno de notas.

Visito o banco.
Para que esse dinheiro azul se algumas horas
mais, vem a polícia retirá-lo do que foi meu peito e está aberto?
Mas não me vejo cortado e ensangüentado.
Estou limpo, claro, nítido, estival.
Não obstante caminho para a morte.

Passo nos escritórios.
Nos espelhos, nas mãos que apertam, nos olhos míopes,
nas bocas que sorriem ou simplesmente falam eu desfilo.
Não me despeço, de nada sei, não temo:
a morte dissimula seu bafo e sua tática.

Almoço. Para quê?
Almoço um peixe em outro e creme.
É meu último peixe em meu último garfo.
A boca distingue, escolhe, julga,
absorve.
Passa música no doce, um arrepio de violino ou vento, não sei. Não é a morte.
É o sol. Os bondes cheios. O trabalho.
Estou na cidade grande e sou um homem na engrenagem.
Tenho pressa. Vou morrer.

Peço passagem aos lentos. Não olho os cafés que retinem xícaras e anedotas,
como não olho o muro de velho hospital em sombra.
Nem os cartazes.
Tenho pressa.
Compro um jornal.
É pressa,
embora vá morrer.

O dia na sua metade já rota não me avisa
que começo também a acabar. Estou cansado.
Queria dormir, mas os preparativos. O telefone.
A fatura. A carta. Faço mil coisas
que criarão outras mil, aqui, além, nos Estados Unidos.
Comprometo-me ao extremo, combino encontros a que nunca irei, pronuncio palavras vãs,
minto dizendo: até amanhã.
Pois não haverá.

Declino a tarde, minha cabeça dói, defendo-me,
a mão estende um comprimido: a água
afoga a menos que dor, a mosca, o zumbido...
Disso não morrerei: a morte engana,
como um jogador de futebol a morte engana,
como os caixeiros escolhe meticulosa, entre doenças e desastres.

Ainda não é a morte, é a sombra
sobre edifícios fatigados, pausa
entre duas corridas.
Desfalece  o comércio de atacado,
vão repousar os engenheiros, os funcionários, os pedreiros.
Mas continuam vigilantes os motoristas, os garçons,
mil outras profissões noturnas.
A cidade muda de mão, num golpe.

Volto à casa. De novo me limpo.
Que os cabelos se apresentem ordenado
que as unhas não lembrem a antiga criança rebelde.
A roupa sem pó. A mala sintética.
Fecho meu quarto. Fecho minha vida.
O elevador me fecha. Estou sereno.

Pela última vez miro a cidade.
Ainda posso decidir, adiar a morte,
não tomar esse carro. Não seguir para.
Posso voltar, dizer: amigos,
esqueci um papel, não há viagem,
ir ao cassino, ler um livro.
Mas tomo o carro. Indico o lugar onde algo espera.

O campo. Refletores.
Passo entre mármores, vidro, aço cromado.
Subo uma escada. Curvo-me. Penetro no interior da morte.
A morte dispôs poltronas para o conforto da espera.
Aqui se encontramos que vão morrer e não sabem.
Jornais, café, chicletes, algodão para o ouvido,
pequenos serviços cercam de delicadeza
nossos corpos amarrados.

Vamos morrer, já não é apenas
meu fim particular e limitado,
somos vinte a ser destruídos,
morreremos vinte,
vinte nos espatifaremos, é agora.

Ou quase. Primeiro a morte particular,
restrita, silenciosa, do indivíduo.
Morro secretamente e sem dor,
para viver apenas como pedaço de vinte,
e me incorporo todos os pedaços
dos que igualmente vão perecendo calados.
Somos um em vinte, ramalhete dos sopros robustos prestes a desfazer-se.

E pairamos,
frigidamente pairamos sobre os negócios
e os amores da região.
Ruas de brinquedo se desmancham,
luzes se abafam; apenas colchão de nuvens, mortes se dissolvem,
apenas um tubo de frio roça meus ouvidos,
um tubo que se obtura: e dentro da caixa iluminada e tépida
vivemos em conforto e solidão e calma e nada.

Vivo meu instante final e é como se vivesse há muitos anos antes e depois de hoje,
uma contínua vida irrefreável,
onde não houvesse pausas, sonos,
tão macia na noite é esta máquina e tão facilmente ela corta blocos cade vez maiores de ar.

Sou vinte na máquina que suavemente respira,
entre placas estelares e remotos sopros de terra,
sinto-me natural a milhares de metro de altura,
nem ave nem mito,
guardo consciência de meus poderes,
e sem mistificação eu vôo,
sou um corpo voante e conservo bolsos, relógios, unhas,
ligado à terra pela memória e pelo costume dos músculos,
carne em breve explodindo.

Ó brancura, serenidade sob a violência da morte sem aviso prévio,
cautelosa, não obstante irreprimível aproximação de um perigo
golpe vibrado no ar, lâmina de vento no pescoço, raio
choque estrondo fulguração
rolamos pulverizados
caio verticalmente e me transformo em notícia.
//
=>Meu comentário => Essa Poesia soa como uma sublime Sinfonia aos meus ouvidos... Como o sentido
e a expressão das palavras podem ser tão musicais, descrevendo a trama complexa que envolve a
gama variada de timbres que estruturam uma Composição Orquestral - com sua mensagem tão
profunda sutil e abstrata... 

DOIS POEMAS DE FERNANDO PESSOA

É uma brisa leve

É uma brisa leve
Que o ar um momento teve
E que passa sem ter
Quase por tudo ser.
Quem amo não existe.
Vivo indeciso e triste.
Quem quis ser já me esquece
Quem sou não me conhece.
E em meio disto o aroma
Que a brisa traz me assoma
Um momento à consciência
Como uma confidência.
                         Fernando Pessoa

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O meu coração quebrou-se

O meu coração quebrou-se
Como um bocado de vidro
Quis viver e enganou-se...

                        Fernando Pessoa